05/02/2013
Rio de Janeiro, RJ
Por Paulo Pinto
Fotos Revista Budô
Paulo
Wanderley Teixeira, candidato único, foi reeleito presidente da
Confederação Pan-Americana de Judô, em assembleia realizada no dia 12 de
janeiro, na cidade de San José, Costa Rica.
O
ponto alto do evento, entretanto, foi a atitude de Marius Vizer,
presidente da Federação Internacional de Judô (FIJ), que abandonou a
assembleia, da qual participava também o presidente do Comitê Olímpico
Costa-Riquenho, Henry Nuñes.
Em seu
discurso de abertura, Marius Vizer disse com todas as letras que o judô
pan-americano não esta sendo conduzido de forma correta, e que todos
haviam lutado muito para resolver os problemas existentes na época em
que o continente estava sob o jugo da UPJ.
O
dirigente máximo do judô mundial concluiu afirmando que a CPJ dirige a
modalidade, hoje, da mesma forma que a UPJ fez no passado.
Já o
dirigente centro-americano que nos informou os fatos ocorridos disse que
Vizer se referia à forma como Julio Clemente, ex-diretor de arbitragem
da CPJ, foi exonerado do cargo, bem como outros dirigentes de destaque
afastados recentemente pela cúpula da entidade.
Diante
disso, Paulo Wanderley reagiu afirmando que não gostava e nem admitia
as críticas feitas por Marius Vizer, que a América é um continente
independente e que o dirigente mundial não deveria intrometer-se nos
assuntos internos da Confederação Pan-Americana de Judô.
A
reação intempestiva de Paulo Wanderley causou grande mal-estar, a ponto
de o presidente da Federação Internacional de Judô retirar-se e não
participar mais da assembleia.
Sabemos
que por trás das reclamações feitas por Marius Vizer estão inúmeras
irregularidades, desmandos e equívocos cometidos por Paulo Wanderley e
seus títeres, Ibáñez e Chevez.
Entre
outras coisas, destacamos a perseguição sistemática feita a Jorge
Armada, ex-presidente da CPJ e crítico ferrenho da administração
desenvolvida pela cúpula da Confederação Pan-Americana de Judô.
Dois pesos e duas medidas
Paulo
Wanderley acusou o presidente da FIJ de intrometer-se em assuntos
internos de sua administração, mas esta é uma prática comum do dirigente
americano, que em novembro enviou seus diretores Ibáñez e Chevez ao
Panamá, onde foram apoiar e participar da criação de uma nova federação
de judô, visando a anular e esvaziar a Federação Panamenha de Judô
(Fepajudo), entidade muito bem administrada por Rosa de Santamaría que é
filiada à CPJ e à FIJ.
Esta é
uma prática antiga do dirigente brasileiro, que por diversas vezes agiu
assim no Brasil para retirar dirigentes indigestos de seu caminho.
Mas se
a atuação da cúpula da CPJ no Panamá fere princípios e a ética
esportiva, a atitude de Marius Vizer é, no mínimo, correta e sensata, já
que o mesmo encarou grandes problemas internacionais para desfiliar a
UPJ e apoiar a criação da CPJ, chegando a enfrentar durante três anos um
processo na Corte Arbitral do Esporte, que é sediada na Suíça.
A
participação de Vizer no desmonte da União Pan-americana de Judô e na
criação da Confederação Pan-americana de Judô foi fundamental e
decisiva. Portanto, isso o credencia a opinar sobre os destinos de uma
entidade que enterrou os 50 anos de história do judô pan-americano.
Os
erros e abusos da cúpula da CPJ têm sido constantes, e com isso o judô
continental não avança e não cria vida própria. Levamos quatro anos de
administração calamitosa de uma entidade que nem website possui.
Não
sabemos quais dirigentes compõem seu comitê executivo e são responsáveis
pelos vários departamentos que deveriam alavancar o desenvolvimento do
judô pan-americano.
Sabemos
apenas que, da mesma forma como aconteceu no passado com a UPJ, hoje o
judô continental é comandado apenas por três dirigentes: Paulo
Wanderley, Fernando Ibáñez e Luis Chevez, secretário e tesoureiro da
CPJ.
As
razões que motivaram a exoneração de Julio Clemente ainda são
desconhecidas, mas sabemos que o ex-diretor de arbitragem da CPJ foi um
dos dirigentes que mais trabalhou pelo desenvolvimento da entidade,
quando de sua criação. Recentemente Julio lutou bravamente contra o
câncer e foi justamente quando venceu esta batalha que soube que estava
fora da arbitragem continental. Além de ser consenso na arbitragem
pan-americana, Julio Clemente era um dirigente muito respeitado e
querido por todos. Talvez tenham sido estas qualidades as verdadeiras
razões de sua queda.
Antes
dele caiu Jorge Armada, dirigente que não se calava e sistematicamente
mostrava os erros cometidos. Armada mantém grande amizade com Marius
Vizer, Alexandre Blanco e Ignacio Aloise. Isso o coloca em linha de
diálogo direto com a cúpula do judô mundial, e Paulo Wanderley não
admite que ninguém além dele tenha força ou destaque internacional no
continente. Aliás, nem ele mesmo tem ligação com Alejandro Blanco, um
dos homens mais influentes nos comitês olímpicos e nas federações de
judô do continente americano.
Outra
grande perda para o judô pan-americano foi a saída de Ignacio Aloise,
presidente da Federação Uruguaia e grande articulador do judô
continental, que, após constatar o erro que cometido por levar Paulo
Wanderley ao poder, se demitiu e está fora do cenário nas Américas. Não
há mais ninguém no caminho de Paulo Wanderlei. No Brasil ainda é
possível minar a base do monstro, mas a oposição séria ainda não se deu
conta do que pode e deve ser feito.
Com
isso o dirigente brasileiro tem hoje total poder na modalidade e usa as
presidências do judô brasileiro e pan-americano para alçar voos cada vez
mais altos e vislumbrar o Ministério dos Esportes, o Comitê Olímpico
Brasileiro e a presidência da Federação Mundial de Judô, já que Vizer se
encontra enfraquecido.
O que
se viu foi uma atitude grosseira de Paulo Wanderley ao interpelar o
dirigente máximo do Judô Mundial, de forma agressiva a ponto de Vizer
sentir-se humilhado e deixar a assembleia, olvidando os princípios de
hierarquia e respeito tão apregoados na modalidade.
A
intervenção de Vizer, a nosso entender, foi própria e tempestiva,
porquanto cabe à FIJ dirigir o judô mundial, o que por lógica compreende
manter a harmonia entre todos os entes e entidades, coibindo
perseguições odiosas. O revanchismo é prática que deve ser banida da
modalidade, o que pensamos que foi a intenção de Vizer coibir.
Não há
mais espaço para déspotas no judô, especialmente aqueles que se
perpetuam no poder e causam males perseguindo entidades e pessoas,
afastando praticantes e causando instabilidade. O esporte, por origem e
princípio, é para ser participativo e não excludente como ocorre.
Afastar dirigentes, perseguir entidades somente serve para mesquinhos
interesses políticos pessoais e não para fomentar a modalidade, como
prevê a tarefa de um dirigente.
Por
seu turno está demonstrado que a concentração de poder cria monstros. Os
déspotas assim são investidos por nós mesmos. Vizer ajudou a criar um
monstro que agora vai engoli-lo e degluti-lo, na medida em que Paulo
Wanderley é hoje um dirigente com muito mais poder que Vizer, isto é:
dirige a CBJ, que hoje é uma das entidades mais capitalizadas e
poderosas do mundo; é presidente do judô pan-americano e vice–presidente
da FIJ. A pergunta que não quer calar é: será que Vizer possui forças
para deter o monstro que ele mesmo criou?
Divulgação JUDOinforme
Prof. Rocha - Jornalista